26/03/2013
31,5% das vítimas de violência estavam embriagadas no dia da agressão
Novos dados são do Ministério da Saúde.
“O uso exagerado de álcool transforma a mulher em uma bomba-relógio”,
afirma especialista.
O consumo exagerado de bebidas alcóolicas transforma a mulher em
uma bomba-relógio, mais vulnerável à violência, tanto no papel de
vítima quanto no de agressora.
A afirmação é da psiquiatra Camila Magalhães, diretora do Centro de
Informação sobre o Álcool (Cisa) e uma das principais estudiosas da
dependência química feminina.
Levantamento recente feito pelo Ministério da Saúde traz
informações atualizadas sobre esta relação violenta entre o álcool e as
pacientes.
A avaliação foi feita com 47.455 vítimas de traumas urbanos, atendidas em 71 serviços de urgência do País.
Os dados, ainda preliminares, mostraram que, entre as mulheres
agredidas que chegaram aos hospitais, 31,5% tinham consumido
exageradamente cerveja, vinho, uísque ou qualquer outra dose etílica no
dia da agressão.
Para os especialistas, constatar que a embriaguez feminina está
relacionada ao episódio violento não é culpar a vítima pelos tapas e
socos sofridos.
“Os dados nos permitem reforçar que ao evitar o uso nocivo de
álcool, as mulheres ampliam o alcance da prevenção da saúde”, alerta
Camila.
“Elas ficam mais protegidas contra os problemas agudos e perigosos,
como é o caso da violência, e também evitam as doenças crônicas,
desencadeadas pelo uso progressivo da bebida em excesso (problemas no
rim, fígado, coração e psicológicos estão na lista).”
A ação do álcool
O psiquiatra do Hospital São Luiz, Renato Mancini, explica que o
álcool desperta o comportamento violento, seja o consumidor homem ou
mulher.
“Infelizmente, aspectos machistas ainda presentes na nossa cultura e
a maior fragilidade física das mulheres contribuem para que elas sejam
alvo frequente desse tipo de agressão”, afirma o especialista.
Segundo ele, a droga afeta o sistema nervoso central, inicialmente
causado efeito de desinibição, seguida posteriormente, por uma sedação.
“Quando alcoolizadas, as pessoas têm maior risco de se envolver em
brigas nas quais podem se machucar ou machucar outras pessoas”, explica.
Além disso, as bebidas alcóolicas também afetam a coordenação
motora, os reflexos e o raciocínio: “um prato cheio para fazer com que
as pessoas se coloquem em situações de risco”, completa Mancini.
Causa e consequência
Neste contexto de maior vulnerabilidade feminina, preocupa as
autoridades a constatação de que é crescente o uso de drogas pelas
mulheres.
“O aumento é inegável”, afirmou o Ministro da Saúde, Alexandre
Padilha, em evento sobre o programa de vigilância da violência da saúde,
em fevereiro.
“Só para citar um exemplo: no carnaval do ano passado, montamos um
projeto-piloto de atendimento a emergências no carnaval de Salvador.
Entre os embriagados que precisaram de cuidados, 70% eram homens e 30%
mulheres”, contou Padilha.
“No Carnaval deste ano, repetimos a experiência. Não existiu
diferença de gêneros nos atendimentos. Metade era do sexo masculino e a
outra do sexo feminino.”
Além dos fatores culturais como o machismo, o organismo das
mulheres também contribui para colocá-las no alvo. O corpo feminino é
mais fraco para a bebida e os estudiosos já detectaram que até a
estrutura hormonal facilita a dependência química.
A psiquiatra Camila Magalhães explica que o uso descontrolado de
álcool pode ser causa ou consequência da mulher que já está em um
relacionamento – afetivo ou familiar – problemático.
“Ela pode ter a motivação para beber porque já está inserida em uma
situação estressante e tem a falsa ideia de que a bebida vai aliviar
isso”, explica.
“Mas também pode acontecer dela beber exageradamente e então
apresentar um comportamento não aprovado pelo companheiro, dizer coisas
que não diria e ficar violenta, mais vulnerável à agressão.”
Nos dois casos, explica a especialista, o álcool não é o
responsável exclusivo pela violência, mas um potencializador de
situações já conflituosas. “O álcool transforma as mulheres em
bomba-relógio”, define.
Fonte: IG - http://www.abead.com.br/noticias/exibNoticia/?cod=830
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